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A ARTE DO DISFARCE NOS SERES VIVOS

Onde está o Wally?

 

As adaptações de cada indivíduo são processos de melhoria gradual no seio de cada espécie, que fazem com que, em cada geração, a espécie melhor se adapte ao ecossistema.

Se os Ecossistemas vão evoluindo ao longo de uma sucessão ecológica no sentido da sua melhoria também as espécies vão melhorando ao longo do tempo. Os indivíduos com características que se mostram melhor adaptados ao meio, têm maior possibilidade de sucesso, também reprodutivo.

Em cada nova geração os indivíduos estão cada vez melhor adaptados ao meio.

Mas o meio vai mudando…

Este processo (lento, mas eficiente) chama-se adaptação. Geralmente pensamos nas adaptações à mobilidade (membros), à capacidade alimentar (bicos), ao clima (revestimento), etc.


O mote desta exposição prende-se, não com a mobilidade ou com a prática alimentar, mas sim com a aparência externa dos indivíduos.

Observaremos que esta aparência é, também, fruto da evolução das espécies, de seres assim  melhor “equipados” para a sobrevivência, serão seres com maior possibilidade de sucesso biológico, de sucesso reprodutivo, e de proles ainda melhor sucedidas.


A capacidade de sobrevivência de cada espécie é dependente:


• da menor possibilidade de ser detetada pelas espécies com quem estabelece relações predador-presa;


• de atração perante o parceiro o que aumentará a probabilidade de sucesso na sua reprodução sexuada.


Existe por isso um objetivo quase antagónico, por um lado passar despercebido no âmbito das relações predador-presa, e por outro ser particularmente atraente (durante a época reprodutiva) no que respeita à capacidade de atrair o sexo oposto.

Alguns seres, trocam a discrição pela tentativa de parecer outros, que são venenosos ou perigosos e assim deixarem de ser presas apetecíveis.

(Por exemplo as borboletas podem possuir uns “olhos” desenhados nas escamas das suas asas e assim parecerem animais muito maiores e agressivos.)

 


Mas a discrição nas relações predador-presa é regida por que regras ?


Nas relações predador-presa, não interessa:


• ao predador ser detetado, pois assim pode desferir o ataque de surpresa;


• à presa ser detetada, pois assim pode passar despercebida ao seu predador.

Embora o sucesso da predação ou a fuga à predação seja em larga escala reflexo do comportamento dos animais, o aspeto exterior do animal irá desempenhar um importante papel no sucesso ou insucesso:


Não ser detetado, é:


• permanecer em silêncio;
• permanecer imóvel;
• possuir cores semelhantes ao ecossistema: camuflagem - homocromia;
• possuir formas semelhantes ao ecossistema ou a seres vivos diferentes: mimetismo - homotipia.

 


Camuflagem: capacidade de adquirir as cores e as formas do meio para não se ser detetado.

A camuflagem pode ser permanente ou temporária.

Alguns animais possuem a capacidade de adquirir as cores do meio onde se encontram: os mais conhecidos são os Camaleões, mas esta característica não lhes é exclusiva, sendo extensível por exemplo aos Peixes (Linguados e outros), aos Cefalópodes (Polvos), aos Insetos e Aracnídeos…

O homem tem-se servido destes saberes adotando-os sobretudo para fins militares, por exemplo quando usa camuflados que adquirem as cores esverdeadas da floresta ou os pardos pálidos do deserto, ou ainda o branco da neve nas regiões polares.


Alguns seres humanos, também se servem desta caraterística de uma forma quase subliminar, mesmo que não se queiram vestir rigorosamente nos padrões da moda, ninguém se quer destacar por estar absolutamente “fora de moda” e por isso, se houver destaque, que o seja por se estar “na tendência/no estilo” e não por estar antiquado…

Outros animais que possuem cores que em estado normal estão escondidas, mas durante o ritual de acasalamento mostram-se com todo o esplendor, de forma a captarem a atenção das fêmeas. 

As abetardas e os sisões por exemplo, que parecem ser os reis da camuflagem transformam-se numa
massa de penas erguidas tornando-se irresistíveis e chamativos, durante os rituais de acasalamento.

Outro exemplo é o de algumas espécies de cabozes (peixes) que são pretos (escuros) durante quase todo o ano, mas … na época reprodutiva tornam-se amarelos.

Por vezes, não se trata de alterar cores, mas sim adquirir formas ou posições que se assemelham ao meio onde nos encontramos.

 


Chamamos-lhe Mimetismo ou Homotipia.

Mimetismo: capacidade de se parecer o que se não é.
 

Os melhores exemplos desta capacidade são, sem dúvida, o inseto folha e o inseto pau, que quando se encontram no seu meio, são praticamente indetetáveis.


Outro exemplo é o do Louva-a-Deus que se coloca estático nas pontas dos ramos, como se fosse a sua continuação, à espera das presas incautas.

Algumas plantas também nos ensinam verdadeiras lições: por exemplo as plantas de polinização entomófila (como as Orquídeas) adquirem formas que se assemelham tanto aos insetos, que os machos destes poisam sobre os seus labelos numa postura reprodutiva.

O Mimetismo não acontece só pela forma, mas também pode ser consequência de uma atitude.
 

Ser atraente é:


• emitir sons melodiosos (canto) ou expressivos da sua potência (brama);
• aparentar ser um bom reprodutor (estrutura corporal – musculatura; beleza – colorido; mobilidade e destreza na dança; …);
• demonstrar capacidade de alimentar as crias (ou a fêmea), defendendo um grande e rico território, construindo um ninho aprazível, exibindo algumas reservas alimentares.

Os veados esfregam as glândulas pré-orbitais e as armações nos troncos das árvores do seu território, obviamente à sua altura, mas ao se posicionarem em pé, sobre os membros posteriores, as suas marcas ficarão certamente mais altas e darão a entender à fêmea que os veja, que são machos mais
corpulentos(!).


Ninguém passa despercebido ao canto de um rouxinol, o empenho vocal de um galo pela manhã, a exibição colorida de uma viúva (ave africana), ou a exaustão de um veado, na defesa do maior e melhor território durante a época de acasalamento.
 

Parece exaustivo o esmero de um tecelão ao construir um ninho pela manhã, a mantê-lo fresco com batimentos de asas durante todo o dia, para conseguir atrair uma fêmea, e o seu desespero ao destruí-lo por não ter sido suficientemente convincente.  Para na manhã seguinte recomeçar…

A dança de um sisão na nossa Lezíria parece ter influenciado a dança dos nossos fandangueiros, como as danças das viúvas se assemelham às danças de algumas tribos Africanas …


Mas, mais uma vez… os enchumaços nos ombros dos casacos de Homem, ou as roupas que empolam certas formas … são exemplos de Mimetismo na espécie humana.


Mas, de tudo isto, aprendamos…

Quando queremos observar um animal, temos de compreender que ele tudo fará para não ser detetado, pois à partida, ele considera-nos um seu predador.


Se nós também permanecermos imóveis, em silêncio e camuflados pode ser que algum desses seres vivos, não nos detetem, atuem livremente, revelando-se.


Mesmo que o animal nos tenha visto, se adotarmos certos comportamentos, pode ser que mesmo assim consigamos apercebermo-nos da sua presença, ou porque estão entusiasmados com os seus cantos de acasalamento, ou porque se julgam a uma distância de segurança ou, simplesmente, porque acham estranho não evidenciarmos a nossa presença…


A curiosidade matou o gato…


 

É difícil aproximarmo-nos de animais sem sermos detetados, mas se permanecermos imóveis, em silêncio e camuflados, provavelmente eles denunciar-se-ão por curiosidade ou por perda de paciência…

 

 

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