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A existência de orquídeas silvestres em Portugal e em particular no Parque Florestal de Monsanto em Lisboa, constitui para muitas pessoas uma verdadeira surpresa, pois quando pensam em orquídeas, pensam sobretudo nas espécies tropicais, normalmente de maiores dimensões e mais vistosas, principalmente as que se podem ver em viveiros e nas montras das floristas (na sua maioria híbridos e cultivares).

Contudo apesar das orquídeas do nosso clima temperado serem mais modestas do que as suas congéneres dos trópicos, não deixam as mesmas de na sua pequena simplicidade mostrar cores e formas encantadoras e peculiares, a que a imaginação popular se encarregou de nomear de forma imaginativa e curiosa.

Assim das cerca de 200 espécies europeias, podem ser encontradas em Portugal cerca de 60 e no Parque Florestal de Monsanto cerca de 25 espécies.

A preferência deste tipo de plantas por zonas calcárias, e por clareiras iluminadas e banhadas pelos raios de sol, sempre em solos não cultivados, leva a que após a florestação do parque de Monsanto efectuada nos anos 40 do século passado, esta tenha causado que presentemente as orquídeas sejam aí plantas raras e de difícil observação. Três espécies são contudo a excepção a este caso, a Cephalanthera longifolia e a Gennaria diphylla, que por serem plantas que toleram e parecem gostar de terrenos mais sombreados são assim as espécies mais comuns e generalizadas em Monsanto, em conjunto com a Barlia robertiana, espécie que talvez possa ser considerada a mais comum das orquídeas em Portugal.

Estas razões levam a que as mesmas devam assim ser compreendidas e respeitadas, pelo que só a divulgação da sua beleza e da sua importância na manutenção da biodiversidade deste parque deve ser um factor primordial para a sua conservação, protecção e desenvolvimento.

Muitas orquídeas mimetizam insectos de uma determinada espécie, mais precisamente as fêmeas desses insectos, julgando-se ainda que produzam químicos semelhantes às feromonas desses insectos, contribuindo para a sua atracção, levando os machos a procurar copular com as suas flores e assim permitindo a disseminação do seu pólen. As orquídeas não têm anteras mas sim pequenas aglomerações de pólen chamadas polinídias, que são adesivas e ficam coladas aos abdómens ou às cabeças dos insectos que visitam outras flores e repetindo o processo contribuem assim para a sua fecundação. Ao contrário da maioria das plantas em que o transporte do pólen pode ser efectuado pelo vento, aqui a dispersão do mesmo é efectuada essencialmente por insectos.

O género Ophrys do qual existem em Portugal cerca de dez espécies é talvez o mais conhecido por este tipo de estratégia de sobrevivência. As flores destas plantas têm assim um aspecto bastante bizarro pois o seu objectivo é imitar a fêmea de um determinado insecto para que os machos sejam enganados, tentando copular com as suas flores. Existe por vezes uma estreita relação entre determinada espécie de orquídea e o seu insecto polinizador, levando por vezes a uma magnífica evolução da planta em termos de metamorfismo mimético, sendo esta a razão para as curiosas formas das suas flores que atentamente podem observar.

Assim abelhas, vespas e besouros são intervenientes e convidados neste processo, sendo comum avistarmos alguns insectos que parecem apresentar um aspecto “inebriado” deslocando-se de flor em flor...

Para além desta estreita relação com o insecto polinizador, de que depende a sobrevivência da planta, a total ausência de reservas nutritivas das suas pequenas e inúmeras sementes, que tendo uma muito pequena taxa de sucesso, obrigou também ao desenvolvimento de processos peculiares de germinação, que envolvem a simbiose com determinados fungos e suas micorrizas.

E para que haja fungos e uma rede de micorrizas que seja capaz de suportar as orquídeas é preciso que haja um equilíbrio do ecossistema, o qual no entanto pode facilmente ser destruído pelo homem, pela perturbação mecânica do solo ou pela introdução de químicos tóxicos nos solos, ou pela poluição do ar.

Por estas razões as orquídeas podem também ser assim consideradas como bioindicador do estado do ar e da ausência de poluição de um local, sendo a sua existência o garante de estarmos perante um ecossistema completo e complexo em pleno desenvolvimento.

Venha pois conhecer as orquídeas do Parque florestal de Monsanto, que com os nomes com que os pastores e agricultores as foram apelidando ao longo de gerações, permitem antever as suas formas singulares e curiosas no limite da imaginação e interpretação destas autênticas esculturas.

O Maravilhoso Mundo das Orquídeas Silvestres de Monsanto

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